sábado, 3 de setembro de 2011

Por que tantas interpretações?




Este post é uma resposta ao Ricardo do blog A arte de ter razão (muito bom por sinal). Como acredito que esta pergunta Por que tantas interpretações? é uma pergunta recorrente e bastante comum, resolvi deixar disponível aos leitores do blog.

1- Como você deve saber a Bíblia é uma coleção de 66 livros, escritos há milênios atrás, em um longo período de tempo (aprox. 1500 anos) e por diversos autores. Há um abismo cronológico, geográfico, cultural, gramatical e literário, que separa o leitor moderno do escritor original. Obviamente, estes abismos tornam a tarefa hermenêutica um grande desafio.

2- Para tanto, qualquer leitor comprometido em buscar o sentido literal e original dos textos, o que chamamos de método histórico-gramatical, deve prestar atenção em alguns pontos importantes. Há que se compreender o contexto imediato das passagens, o contexto cultural, a diferença entre estilos literários (poesia, parábola, narrativa, epistola, profecia, etc.), e se possível, até mesmo as línguas originais (hebraico e grego koinê).

3- A maioria das divergências ocorrem por parte daqueles que não tem nenhum compromisso em interpretar as escrituras de modo literal. São os chamados alegorizadores. Estes entendem que há um sentido oculto por trás daquilo que é óbvio no texto. Deste modo, cada alegorizador acha uma coisa diferente, e no fim, temos um milhão de explicações para um só texto.

4- Alguns problemas de interpretação surgem quando nos deparamos com algumas passagens obscuras da Bíblia. Neste caso, há principal regra é: "A bíblia interpreta a própria bíblia". Ou seja, as passagens obscuras e secundárias devem ser interpretadas com base em trechos claros e principais.

5- Está claro que a maioria não tem este compromisso. Quando vão ao texto, eles vão procurando achar algo que comprove seus pressupostos. Eles não permitem que a Bíblia os oriente, ao contrário, usam a Bíblia como legitimizadora de seus pensamentos, ideologias, filosofias, enfim.

6- É simples. Todo processo de comunicação envolve o emissor, a mensagem, e o receptor. O emissor bíblico comunicou uma mensagem aos leitores de seu tempo de acordo com os canais e códigos adequados de seu tempo, e teve a intenção de ser compreendido por eles. Portanto, nosso papel é tentar descobrir o que a mensagem significou para o receptor original, e dai aplicar ao nosso tempo. Como dizem o exegetas, "é um só significado, e muitas aplicações".

7- Imagine que o Ricardo (a arte de ter razão) viajou à Índia e viu a calamidade da população pobre e excluída que morre de fome pelas ruas. Este fato o perturbou tanto, que ele foi absolutamente consumido por uma indignação, um senso de urgência e de dever, para com os esfarrapados da terra. Isto o levou a escrever aos principais jornais de seus país de origem, alertando sobre o caos social da Índia. Bom, acho que você não gostaria que a notícia fosse interpretada como se os indianos estivessem experimentando uma enorme fome intelectual.

Acho que os escritores bíblicos também foram consumidos por observarem o mundo dos homens e identificarem que o mundo "não é o que deveria ser", e a culpa não era de Deus, mas de seus moradores, que não eram capazes de amar o próximo e estender a mão aos pobres, aos orfãos, as viúvas e aos estrangeiros. E deixaram uma mensagem, que é o fundamento de toda Escritura: amem uns aos outros.

fonte:http://dlgrubba.blogspot.com/2009/11/por-que-tantas-interpretacoes.html